sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Aníbal Cristobo

O poeta Aníbel Cristobo será tema da palestra de Manoel Ricardo de Lima: "Anibal Cristobo: poesia, paralaxe" que será proferida no Simpósio dia 29/10/2010 as 15:30h



Aníbal Cristobo nasceu em Buenos Aires, em 1971. Viveu durante cinco anos no Rio de Janeiro, onde publicou seu primeiro livro, Teste da Iguana, em 1997 pela editora 7Letras. A ele seguiram-se jet-lag (2002), krill (2004) e Miniaturas Kinéticas (2005), que reúne sua produção até o momento. Aníbal faz parte do conselho da revista Inimigo Rumor, verteu para o português diversos poetas hispano-americanos, como Antonio Cisneros e Gonzalo Rojas, edita a coleção argentina de poesia "bike-bike" e, em 2007, criou o site Escolhas afectivas, versão brasileira do modelo argentino Afinidades electivas, que reúne atualmente mais de uma centena de escritores. No blog kriller 71, podemos ler quase toda sua produção e também suas mais recentes traduções. Em 2002, Aníbal se instala em Barcelona, onde reside atualmente. Sua passagem pelo Brasil deixará muitas pegadas, marcas e rastros, e me lembro agora da iguana deixando seu passo na areia, figura que aparece em seu primeiro livro, mescla de velocidade e forma, mancha de luz:

Teste da Iguana

Animal: figura da velocidade
e da forma – mancha
de luz – que cruzou o caminho:
o passo da iguana e seu
selo na areia: repouso,
repetição do corpo

e o impregnado: a
pegada
como livro de paixões
e de assombro; e espelho: desdobrando
tua voz, igualando-a
com teu próprio desejo
como em algo
como num exercício metonímico:

“o passo da iguana
e seu sistema de indeterminação: forma

ou velocidade?”

Iguana:
teus olhos frios na pedra laranja,
rapidíssimos,
como final de toon.-



Test de la iguana Animal: figura de la velocidad / y de la forma –mancha / de luz- que ha cruzado el camino: / el paso de la iguana y su / sello en la arena: reposo, /repetición del cuerpo // y lo impregnado: la / huella / como libro de pasiones / y de asombro; y espejo: desdoblando / tu voz, igualándola / con tu propio deseo // como en algo / como en un ejercicio metonímico: // “el paso de la iguana / y su sistema de indeterminación: forma // o velocidad?” // Iguana: / tus ojos fríos en la piedra naranja, / rapidísimos, / como final de toon.-
















Eszter

Um pixel da tua pele –
Uma peça da rarefação, a coleção
do sonho, como um crawl
na neve
eras o pardal no poste,
sacudindo-se apenas

e em Manhattan, tomando
um chá: como aquela
garotinha de Hopper

também você um chapéu.
Mas você: uns óculos,
um impala ‘68,
uma música.-


Eszter Un pixel de tu piel – / Una pieza de la rarefacción, la colección / del sueño, como un crawl / en la nieve / eras el gorrión en el poste, / sacudiéndose apenas // y en Manhattan, tomando / un té: como aquella / muchachita de Hopper // también vos un sombrero. // Pero vos: unas gafas, / un impala ’68, / una música.-



Filha do capinzal (uma canção)

A que arranhou o disco da névoa
enquanto todos dormiam em suas roupas
risíveis, era eu.

A que teve um sonho nas gengivas
até que as frutas apagaram suas lembranças
e gravaram seqüências, na
noite do paladar – era eu.

Que a lua não venha, agora
que peço. Que os macacos caminhem
de mãos dadas, em santidade.

Por seus relâmpagos os reconhecerás. Verás
o que o encantador não diz.
A que esculpiu seus heróis nas unhas, a que
curou as pedras, era eu.

E a que viu o koala, mantendo relações
com sua mulher, e o trevo de saturno, com suas
dez folhas bruxas, era eu.
Que a peste carregue este caderno.
Que os exploradores não encontrem meus cabelos.-


Hija del pastizal (una canción) La que arañó el disco de la niebla / mientras todos dormían en sus trajes de / risas, era yo. // La que tuvo un sueño en las encías / hasta que las frutas borraron sus recuerdos / y grabaron secuencias, en la / noche del paladar – era yo. // Que la luna no venga, ahora / que lo pido. Que los monos caminen / de la mano, en santidad. // Por sus relámpagos los reconoceréis. Veréis / lo que el encantador no dice. // La que esculpió sus héroes en las uñas, la que / curó a las piedras, era yo. // Y la que vio al koala, teniendo intimidad / con su mujer, y al trébol de saturno, con sus
diez hojas brujas, era yo. // Que la peste se lleve este cuaderno. / Que los exploradores no encuentren mis cabellos.-



Distâncias incomensuráveis

Um espelho cai e bate
se quebra contra
estrelas se desfazem
na noite imaginária de um céu
do pensamento. Muito e pouco

distam
das estrelas e luas de strass
que sobre a mesa de um camelô
o sol faz brilhar: “a BBC

sonhava com tudo o que eu – mas eu
só comigo sonhava!”gritou
Souza, pela oniaudiente megafone instalado
em sua mente. Pela TV se vê
que para atrair os índios, um
espelho
foi deixado brilhando no matagal.

Mas quem afasta verdes feixes
de elétrons, e penetra
no vibrante espaço do capinzal
– distante e infinito –
sou eu. Eu:

trânsfugo índio que acha
a trânsfuga estrela no chão.-


Distancias inconmensurables Un espejo cae y golpea / se quiebra contra/ estrellas se deshacen / en la noche imaginaria de un cielo / del pensamiento. Mucho y poco // distan de las estrellas y las lunas de strass / que en la mesa de un vendedor ambulante / el sol hace brillar: “la BBC // soñaba con todo lo que yo – pero yo / sólo conmigo soñaba!” gritó Souza, por el omniaudiente megáfono instalado // en su mente. Por la TV se ve / que para atraer a los indios, un / espejo / fue dejado brillando entre los pastos. // Pero quien aparta verdes haces / de electrones, y entra / en el vibrante espacio del pastizal – distante e infinito – // soy yo. Yo: / tránsfuga indio que encuentra / la tránsfuga estrella en el suelo.-


Do livro krill, seguem mais dois belíssimos poemas, que estão oralizados no vídeo acima, “Céu do siamês” e “Ema”:

Céu do siamês

Oculto entre os cobertores, falo
com o siamês; “siamês, vamos para o Novo
México, quero ver a ruína
da ferrugem ao sol, e o
deserto de dias, um
cacto”. Cada um de nós

leva o roçar de suas pedras
na mão, compara
o método de seu rosto na ilha do medo. Eu

sou assim, e também
posso ser como você, fracassar
ao morder uma
pêra, ou um biscoitinho
qualquer. Siamês, me leva para longe, diz em

meu ouvido a tua posição
neste céu branco
do navio; e do falar, diz
cada repetição de
tuas palavras, aonde te
conduzem.-


Cielo del siamés Escondido en las mantas, hablo / con el siamés; “siamés, vamos a Nuevo / México, quiero ver cómo se arruina / el óxido en el sol, y el / desierto de días, un / cactus”. Cada uno de nosotros // lleva el rozar de sus piedras / en la mano, compara / el método de sus mejillas en la isla del miedo. Yo // soy así, y también / puedo ser como vos, fracasar / al morder una // pera, o cualquier / galletita. Siamés, llevame lejos, contame // en el oído cuál es tu posición / en este cielo blanco / del navío; y del hablar, decime / cada repetición de / tus palabras, adónde te / conducen.-



Ema

Chega a ema – cansada
de transmitir seu acorde – e sussurra
em teu ouvido:

– basta de peso físico, diz
– pastar, diz

Mas a ema é a bomba
de tempo! É o ladrão! Te descobre
sentado entre as rochas:

– vamos para o aberto, diz
– a curva do espaço, diz

Se há um diamante, é
o da persuasão e distração – como um
ilusionista: “o segredo é a viagem”; sonha
que te hipnotiza; mas também:

– “Eu não sou a ema! A ema
é invisível; e não é verdade
que olhe o céu, aguardando instruções.”-


Ñandú Llega el ñandú – cansado / de transmitir su acorde – y susurra / en tu oído: // – basta de peso físico, dice / – a pastar, dice // Pero el ñandú es la bomba / de tiempo! Es el ladrón! Te descubre / sentado entre las rocas: // – vamos hacia lo abierto, dice / – la curva del espacio, dice // Si hay un diamante, es / el de la persuasión y distracción – como un / ilusionista: “el secreto es el viaje”, sueña / que te hipnotiza; pero también: // –“Yo no soy el ñandú! El ñandú / es invisible, y no es cierto / que mire al cielo, esperando instrucciones”.-

Fonte: Modo de Usar

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